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domingo, 30 de novembro de 2014

Morar sozinha: um testemunho



Este ano concretizei um feito pessoal e nacional histórico: saí de casa. 

Um feito pessoal porque a emancipação é algo que qualquer mulher trabalhadora deve aspirar. Nacional porque hoje em dia é mais fácil encontrar um portal para Nárnia do que conseguir sair da casa dos pais. Há inclusive um estudo recente que indica que temos 40% mais probabilidade de encontrar um ser mágico na linha amarela do que um jovem emancipado (o significado do termo jovem fica ao critério do leitor). 

Foram várias as razões que me fizeram tomar esse passo, a maior parte delas óbvias. No entanto, o sinal definitivo de que era absolutamente necessário sair de casa veio numa manhã de Domingo em que a minha mãe entrou no meu quarto e me acordou para me mostrar uma posta de bacalhau. Achei nesse momento, enquanto tentava articular palavras elogiosas ao bacalhau (espessura, cor, etc, a minha mãe tem muita coisa a dizer sobre bacalhau), que estava na altura de sair. 

Passei algum tempo à procura de casa. Sabia que era uma questão de tempo e persistência mas nada me tinha preparado para a selva que é o mundo da imobiliária no Porto. Vi fotos de cozinhas e casas-de-banho que tinham como legenda a palavra micose. Armários de cozinha sem porta, de forma a ver-se a canalização. Vi tantas fotos destas que comecei a perguntar-me se seria trending, uma nova moda de estética de cozinhas. Tenho ainda uma imagem queimada a ferros na minha memória de uma cristaleira. Foi a maior peça de mobiliário que alguma vez vi na minha vida, de tal forma que o senhorio deve ter tido que entrar na casa do vizinho para a conseguir apanhar toda na fotografia. Resumindo, tudo isto foi uma experiência difícil mas deixou-me mais forte.

Algumas centenas de anúncios da OLX depois, encontrei finalmente uma casa que gostei e comecei então a mudança. Vi, nessa altura, a minha mãe a ver-me encaixotar as minha coisas com aquele sentimento que as mães têm quando vêem os seus filhos irem para a guerra. Só que eu ia para um sítio a 20 minutos de casa. 

Após alguns meses posso dizer que viver sozinha é óptimo mas tem problemas. Não é fazer o jantar, ou até limpar a casa que me incomoda. É ter que lidar sozinha com potenciais insectos. Há duas semanas tive um encontro de primeiro grau com uma centopeia no hall de entrada. Naqueles segundos de terror ponderei telefonar a amigos para me virem matar o bicho, através de um dissimulado convite para jantar. Percebi no entanto, numa velocidade cerebral vertiginosa que não tinha tempo para isso, ganhei coragem e mandei-me a ela com um sapato. Posso dizer que já se passaram duas semanas e ainda entro em casa a fazer um scan automático a todas as paredes da casa.

A grande vantagem de viver sozinha é a casa de banho só para mim. Os banhos de imersão, os banhos de imersão e os banhos de imersão. Não percebo bem a minha fixação por isto mas ela existe e Freud provavelmente terá uma explicação. Tomar banho de imersão era algo temporalmente proibitivo na casa dos meus pais pois apesar de termos banheira, tínhamos também a casa-de-banho mais requisitada da zona Norte de Portugal. Quando ia tomar banho havia sempre alguém a querer tomá-la como sua. Tínhamos de repente um alinhamento de bexigas lá em casa que eu sempre achei completamente inexplicável. 

Vou ter que interromper abruptamente este testemunho aqui, numa altura em que isto estava realmente interessante, porque tenho a sopa no lume.

Na verdade não tenho mais nada para acrescentar de momento, e tenho de facto a sopa a queimar. 

Obrigada pela atenção. Eu volto (entre a promessa e a ameaça). 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Itália: uma fatia

Locais: Entre a calma beleza campestre de Urbino, o controlado ritmo de Bologna e a exuberância de Florença.

Estado: Alimentada a gelados. Porque não há outra forma de sobreviver a um Julho em Itália.



















Itália convida a ficar e a conhecer. Exerce uma força que faz deambular por ruelas e espreitar por janelas abertas. A beleza está nas ruas e por toda a parte, com excepção talvez dos quinhentos frescos que vi de Jesus todo naifado. 

Já que estamos a falar disto, acho que existem demasiadas pinturas de Jesus morto na cruz. Onde quer que vá, nunca vejo uma imagem de Jesus feliz a comer uma sandes de presunto ou a dar uma caminhada pela praia. Neste ponto de vista, Itália não soube surpreender. 

De qualquer forma, quero regressar e voltar a repor os 10 litros de água que perdia por dia com um cone de gelado de limão. Ou vários.

E aquela ponte ali atrás, sim, é ainda mais bonita ao vivo. 

domingo, 27 de abril de 2014

The Invisible Person

Porto, 2013

Life kept rolling her over
like a piece of driftwood
in the surf of an angry sea
she was intelligent and beau-
tiful and well-off she made
friends easily yet she wasn’t
able to put the pieces to-
gether into any recognizable
shape she wasn’t sure who
she wanted to be so she
ended up being no one in par-
ticular she made herself al-
most invisible she was the
person you loved so much who
really wasn’t there at all.

The Invisible Person, James Laughlin, from Poems New and Selected, 1996.

segunda-feira, 10 de março de 2014

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sochi 2014

Eu de manhã a correr atrasada para o metro.











Tirando a parte da cintura delineada. E da licra. E do contorno fálico na licra que nunca deixa de divertir a menina de 8 anos que é o meu cérebro. 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Blue Canvas

Fevereiro, 2014

I want to live where soul meets body
And let the sun wrap its arms around me
And bathe my skin in water cool and cleansing
And feel, feel what its like to be new

Souls Meets Body - Death Cab For Cutie

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Quadros de Miró

Eu quando ligo a televisão e estão a falar outra vez sobre os quadros de Miró.


Esta questão fez inclusive o meu pai perguntar-me no outro dia ao jantar o que era o Surrealismo. Houve um silêncio e depois continuámos todos a degustar a carne estufada.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Morrissey: autobiography


Ando a ler a autobiografia do Morrissey e acho que é uma sorte ele ainda ser vivo. A prosa é poética e romântica mas incrivelmente escura e deprimente a forma como ele descreve a infância em Manchester.

"where every­thing lies wherever it was left over 100 years ago,” “where the 1960s will not swing, and where the locals are the opposite of worldly,” an “old and weathered” place where life is “a race to the grave.” A place whose “architectural heritage is demolition.” 

Tenho me posto a ler isto antes de dormir e ao fim de 15 minutos não sei se apague a luz ou se me afogue numa pequena poça de água. 

Em conclusão, espero as próximas páginas e toda aquela filha da putice sarcástica que ele tão única e carinhosamente sabe criar para nosso deleite. 

E sim, olho para a capa idílica do livro pelo menos de 5 em 5 páginas. Porque é maravilhosa. 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

12 Anos Servente

Sabes que já estás melhor da tua figadeira (resultado de uma orgia alimentar ou num termo mais prosaico, de lanchinhos) quando já tens ânimo suficiente para ver e achares graça a um vídeo chamado:

"12 Anos Servente"- A história do deputado raptado e obrigado a trabalhar

E agora com licença que vou ali beber o meu terceiro garrafão de chá de camomila de hoje. Ciao aí.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Her

Vi o filme Her há algumas semanas atrás e ainda me acompanha para trás e para a frente. É um tumulto de emoções oferecido em repetidas bandejas repletas de prazeres visuais. A sério, Spike Jonze, adoro-te. E ao Joaquin Phoenix também porque bem, nada seria o mesmo sem o Joaquin Phoenix. Especialmente quando ele aparece de bigode a encetar uma relação amorosa com um sistema operativo futurista com a voz da Scarlett Johansson, que constrói consciência e emoções complexas. E vocês perguntam - o que é que estás a dizer? - e eu respondo - exacto. Aqui estão os ingredientes para a mais linda e improvável história de amor dos últimos tempos. 





Theodore: Sometimes I think I have felt everything I'm ever gonna feel. And from here on out, I'm not gonna feel anything new. Just lesser versions of what I've already felt.


quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

About Time

Olá 2014.

Viajei por longas montanhas e perigosos pântanos para vos trazer a notícia: ainda há filmes românticos que merecem ser vistos. Senhoras e senhores:


É tão bom que desta vez nem precisam de mentir e dizer que não viram.

A banda-sonora é perfeita para o filme e encontro-me a ouvir esta música cantada em italiano por um gajo também italiano com uns óculos estranhos chamado Jimmy Fontana. E já lá vão mais de 20 minutos.

Il mondo by Jimmy Fontana on Grooveshark

Jimmy Fontana. Jimmy. Fontana. E é maravilhoso.